Hoje, ao assistirmos a uma
exibição pública de dança-do-ventre, visualizamos apenas o aspecto exterior de
uma dança étnica, que através de seus movimentos produz encantamento e sedução.
Os povos árabes, quando invadiram o antigo Egito, apossaram-se de seu governo,
suas terras e sua cultura. Os árabes se encantaram com os movimentos desta
dança e exigiam que suas filhas aprendessem este ritmo, para poder assim
vendê-las por uma quantidade maior de camelos. Porém em tempos remotos não era
assim, a dança não tinha este aspecto profano de sedução. Esta é a mais antiga
dança que se conhece, atribui-se a sua existência a 4.000 a.C. Os primeiros
registros dessa dança se encontram no Antigo Egito, onde somente as
Sacerdotisas do Templo praticavam esta dança dentro de um ritual sagrado,
vetado aos olhos públicos.
As Sacerdotisas eram
consideradas mulheres sagradas que dedicavam sua vida ao cumprimento de uma
missão divina. Elas não podiam ser tocadas pelas mãos impuras dos homens
profanos. A função da dança das Sacerdotisas, era a de transmutar as cargas de
energia negativas, despertando a serpente de forças da Kundalini, para que esta
força ao subir pela coluna vertebral fosse abrindo os Chakras (centros de
força), tornando as Sacerdotisas capazes de assimilar as forças superiores que
se manifestavam através delas. A dança era um instrumental de meditação ativa e
harmonização com o ritmo cósmico. Tinha a intenção de despertar a visão
interior, retornando do exterior para o seu interior, buscando o seu centro,
estabelecendo o contato com a sua essência.
Trazemos a origem da dança
impregnada na memória de nossas células. O corpo feminino nos tempos primórdios
era considerado sagrado. Os antigos povos primitivos não entendiam como
acontecia a reprodução humana, por isso viam o corpo feminino como um templo
sagrado, porque nele a vida era magicamente gerada, proporcionando a
perpetuação da espécie. Desde cedo as meninas eram preparadas para a
fertilidade e a maternidade, vistas como um ato sacro. O movimento exercido
pelo ventre tinha a intenção de exaltar as energias da criação concentradas no
útero.
Os movimentos exercidos pela
dança buscam expressar os ciclos de mudanças planetárias e das estações, o seu
habitat. Reproduzindo os movimentos do ar, da água, do fogo, das areias do
deserto; os movimentos dos animais (peixe, gato, falcão, camelo, cobra) e
plantas nativas (palmeiras ao vento), interagindo em harmonia com o ritmo da
natureza.
A dança também exerce um
caráter terapêutico, estimulando a vitalidade e despertando a alegria. No
físico aumenta os reflexos e educa a postura; fortalece, alonga e tonifica os
músculos; auxilia o bom funcionamento intestinal, a normalização do ciclo
menstrual e o parto; alivia tensões da nuca, ombros e mãos; ativa a circulação,
promove maior oxigenação de ar nos pulmões; estimula os órgãos reprodutores e o
equilíbrio hormonal. No nível psicológico desenvolve a coragem, a iniciativa, a
tomada de decisões; a flexibilidade, a capacidade de gerar mudanças e de fluir
com o ritmo da vida; promove a feminilidade, a leveza, a criatividade, a
confiança e segurança. Torna a mente ágil, estimula a memória e favorece a
concentração da atenção, desperta a consciência para o momento. Atua nos
centros de força, distribuindo as energias harmoniosamente, equilibrando e
desbloqueando os chakras.
A dança-do-ventre quando
exercida dentro do seu aspecto sagrado, espiritual, torna a mulher a verdadeira
expressão da força do princípio feminino, redescobrindo o sagrado dentro de
nós, revivendo o movimento dos elétrons na camada orbital do átomo e a dança
cósmica das galáxias. O macro e o microcosmo refletidos no divino dentro de
nós.
Autor:
Rosana Aranha
data: 19/05/2002
fontes
Bibliográficas: revista Ótima - Especial Dança do Ventre; revista Bom Astral,
ano 3 - n°16; artigo "Sacro Ofício Dançar" do jornal Clarslin, n° 60
- 06/01; Palestra: "Danças Circulares" - Samira - 18/08/01; Palestra:
"Dança do Ventre" - Sílvia Ximenes - 09/11/01.
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