sexta-feira, 15 de maio de 2015

DANÇA DO VENTRE DOS TEMPLOS AOS PALCOS



Hoje, ao assistirmos a uma exibição pública de dança-do-ventre, visualizamos apenas o aspecto exterior de uma dança étnica, que através de seus movimentos produz encantamento e sedução. Os povos árabes, quando invadiram o antigo Egito, apossaram-se de seu governo, suas terras e sua cultura. Os árabes se encantaram com os movimentos desta dança e exigiam que suas filhas aprendessem este ritmo, para poder assim vendê-las por uma quantidade maior de camelos. Porém em tempos remotos não era assim, a dança não tinha este aspecto profano de sedução. Esta é a mais antiga dança que se conhece, atribui-se a sua existência a 4.000 a.C. Os primeiros registros dessa dança se encontram no Antigo Egito, onde somente as Sacerdotisas do Templo praticavam esta dança dentro de um ritual sagrado, vetado aos olhos públicos.  
As Sacerdotisas eram consideradas mulheres sagradas que dedicavam sua vida ao cumprimento de uma missão divina. Elas não podiam ser tocadas pelas mãos impuras dos homens profanos. A função da dança das Sacerdotisas, era a de transmutar as cargas de energia negativas, despertando a serpente de forças da Kundalini, para que esta força ao subir pela coluna vertebral fosse abrindo os Chakras (centros de força), tornando as Sacerdotisas capazes de assimilar as forças superiores que se manifestavam através delas. A dança era um instrumental de meditação ativa e harmonização com o ritmo cósmico. Tinha a intenção de despertar a visão interior, retornando do exterior para o seu interior, buscando o seu centro, estabelecendo o contato com a sua essência.
Trazemos a origem da dança impregnada na memória de nossas células. O corpo feminino nos tempos primórdios era considerado sagrado. Os antigos povos primitivos não entendiam como acontecia a reprodução humana, por isso viam o corpo feminino como um templo sagrado, porque nele a vida era magicamente gerada, proporcionando a perpetuação da espécie. Desde cedo as meninas eram preparadas para a fertilidade e a maternidade, vistas como um ato sacro. O movimento exercido pelo ventre tinha a intenção de exaltar as energias da criação concentradas no útero. 
Os movimentos exercidos pela dança buscam expressar os ciclos de mudanças planetárias e das estações, o seu habitat. Reproduzindo os movimentos do ar, da água, do fogo, das areias do deserto; os movimentos dos animais (peixe, gato, falcão, camelo, cobra) e plantas nativas (palmeiras ao vento), interagindo em harmonia com o ritmo da natureza.
A dança também exerce um caráter terapêutico, estimulando a vitalidade e despertando a alegria. No físico aumenta os reflexos e educa a postura; fortalece, alonga e tonifica os músculos; auxilia o bom funcionamento intestinal, a normalização do ciclo menstrual e o parto; alivia tensões da nuca, ombros e mãos; ativa a circulação, promove maior oxigenação de ar nos pulmões; estimula os órgãos reprodutores e o equilíbrio hormonal. No nível psicológico desenvolve a coragem, a iniciativa, a tomada de decisões; a flexibilidade, a capacidade de gerar mudanças e de fluir com o ritmo da vida; promove a feminilidade, a leveza, a criatividade, a confiança e segurança. Torna a mente ágil, estimula a memória e favorece a concentração da atenção, desperta a consciência para o momento. Atua nos centros de força, distribuindo as energias harmoniosamente, equilibrando e desbloqueando os chakras.
A dança-do-ventre quando exercida dentro do seu aspecto sagrado, espiritual, torna a mulher a verdadeira expressão da força do princípio feminino, redescobrindo o sagrado dentro de nós, revivendo o movimento dos elétrons na camada orbital do átomo e a dança cósmica das galáxias. O macro e o microcosmo refletidos no divino dentro de nós.
Autor: Rosana Aranha         
data: 19/05/2002
fontes Bibliográficas: revista Ótima - Especial Dança do Ventre; revista Bom Astral, ano 3 - n°16; artigo "Sacro Ofício Dançar" do jornal Clarslin, n° 60 - 06/01; Palestra: "Danças Circulares" - Samira - 18/08/01; Palestra: "Dança do Ventre" - Sílvia Ximenes - 09/11/01.